terça-feira, 21 de agosto de 2012

EPIDEMIA : Rio Grande do Norte registra mais de um caso de AIDS por dia, segundo dados do SUS

Passado o boom do final da década de 80 e início dos anos 90, onde milhares de pessoas morriam portadoras do vírus HIV, a AIDS ainda continuam sendo uma doença que mata de forma silenciosa. A combinação de medicamentos, distribuídos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), garante mais qualidade de vida ao paciente portador do vírus HIV. Ao mesmo tempo, isso pode ter gerando a falsa ideia de que a doença já não preocupa mais. Os números mostram que a doença avança a cada ano no Brasil e com um agravante no Rio Grande do Norte: o número de vítimas não diminuiu e cresce a cada ano desde que o coquetel começou a ser distribuído.

Em 2011, foi registrada uma média de um caso da doença por dia. Foram 377 novos casos apenas no ano passado. De 2000 a 2011, o Rio Grande do Norte já detectou 3.109 casos de portadores da doença. Até o ano passado, mais de 80% dos 167 municípios potiguares já teve ou ainda tem casos de AIDS comprovado. 67% dos casos diagnosticados são em homens, enquanto que apenas 33% em mulheres, numa proporção de dois homens com a doença para cada mulher portadora do vírus. A faixa etária predominante é de 25 a 49 anos, que comporta 75% dos casos. Uma grande preocupação é na faixa etária dos jovens de 13 a 24 anos, pois está em crescimento e já registra uma proporção de um homem para uma mulher infectada.

“É uma faixa etária que está se contaminando muito mais rápido, por isso que a última campanha do Ministério da Saúde foi com foco nos jovens. Talvez por eles não terem pego o susto da doença no final dos anos 80, eles não se preocupam muito. A questão cultural também implica nisso. As pessoas relaxam mais, pois sabem que a doença tem tratamento”, afirmou a técnica da Subcoordenadoria de Vigilância Epidemiológica da Sesap, Tatiana Bernardo.

De acordo com a técnica, de 2000 a 2005, por ano, o RN registrava uma média de 200 casos por ano. De 2006 a 2011, houve um salto significativo, foi registado uma média de mais de 300 casos por ano. “Nem todo crescimento é maléfico. Se estamos trabalhando um diagnóstico precoce, na melhoria do acesso dos pacientes a assistência, então é bem provável o número de casos venha a aumentar até que se estabilize a assistência. Se continuarmos prestando uma assistência boa, é normal que esse número venha a se estabilizar”, afirmou a técnica. A expectativa é em 2012 siga a tendência de crescimento e a Sesap ainda não dispõe de dados sobre o primeiro semestre deste ano.

Em relação ao número de óbitos provenientes do vírus HIV, Tatiana Bernardo disse que no Rio Grande do Norte segue uma tendência de crescimento. “As pessoas ainda chegam aos serviços com o diagnóstico muito tardio. Muito dos casos são descobertos quando entram no Giselda Trigueiro ou quanto morrem”, explicou Tatiana. Em 2010, 102 pessoas morreram no Estado em função da AIDS. “Mas nossa preocupação não é nem em relação ao alto índice de óbitos, mas em intensificarmos as ações do diagnóstico precoce para que ele possa ter uma sobrevida maior”, conta.

A coordenadora do Programa Estadual de DST/AIDS, Sônia Cristina conta que ainda há uma fragilidade no Estado em relação às pessoas que são portadoras do vírus HIV, que ainda não desenvolveram a doença. “É interessante sabermos quantos casos de HIV temos no RN. Hoje não sabemos. É um desafio para podermos estar pensando no futuro. Os estudos mostram que as pessoas, que levam uma boa qualidade de vida, levam até 15 anos para desenvolver a doença. Era interessante termos esses números para tr condições de dar aos pacientes um bom tratamento”, disse. O paciente que descobre que tem é monitorado através de exames laboratoriais CD-4 e carga viral, mas não precisa ser medicado, embora já tenha uma linha de pensamento no sentido de medicar os pacientes portadores do vírus.

“Apesar de ser uma doença que tem tratamento, um tratamento difícil, ainda não tem cura. Quanto mais cedo você fizer o diagnóstico da infeção, mais qualidade você pode ter no tratamento e de vida, além da possibilidade de se reduzir os riscos de transmissão. Por isso, que a Secretaria tem investido cada vez mais na realização do teste Fique Sabendo, num processo de mudança de cultura, pois acredito que o teste tem um papel muito mais de prevenção do que de tratamento”, afirmou a coordenadora do programa Estadual DST/AIDS.

Sônia Cristina lembra ainda a mudança no comportamento sexual dos que estão acima dos 50 anos, com a chegada dos medicamentos contra a impotência. “Há claramente um prolongamento da vida sexual e isso na questão das doenças sexualmente transmissíveis claro que tem impacto.Quem iniciou sua vida sexual numa outra época, ainda tem dificuldade em adotar comportamento mais seguro nas relações, como o uso do preservativo”, destaca a coordenadora. Estima-se que 600 mil pessoas vivem com HIV/Aids no país.

A diretora do Centro Clínico Doutor José Cortez Passos, na Ribeira, Sâmia Câmara, também destacou a importância da realização do teste de HIV/AIDS, pois segundo ela, é alarmante o número de resultados positivos de testes que são realizados na unidade de saúde. O Centro Clínico é referência no tratamento, em nível município, pois conta com o Serviço de Atenção Especial (SAE) HIV/AIDS e Hepatites. Sâmia conta que hoje a unidade conta com uma equipe, formada por infectologista, farmacêutico, enfermeiro e assistente social, mas que está sendo insuficiente para atender a demanda. Desde que o SAE foi criado, em 2008, já são mais de 300 pacientes que fazem o acompanhamento na unidade.

“A demanda cresceu bastante nos últimos anos e nossa equipe hoje está sobrecarregada. O Hospital Giselda Trigueiro só realiza atendimentos terciários, quando já há a necessidade de internamento, e os atendimentos primários e secundários ficam sob nossa responsabilidade”, explicou a diretora.
Desde 2009, o Programa Estadual de DST/AIDS vem investindo na descentralização da prestação do serviço, pois só existia dois serviços que prestavam assistência aos portadores de HIV/AIDS, no Hospital Giselda Trigueiro, em Natal, e Hospital Rafael Fernandes, em Mossoró. “Imagine, um estado como o Rio Grande do Norte, com 167 municípios e apenas dois serviços. A cada ano quando fechamos um boletim, em média, três ou quatro municípios entram na estatística de apresentar pelo menos um caso de AIDS notificado. A AIDS é uma doença que vem se interiorizando. Uma epidemia que vem mudando o perfil. Crescendo o número nas mulheres e nos adolescentes e diante disso precisávamos descentralizar essa assistência”, afirmou Sônia Cristina.

Barriguda News
Fonte Portal JH

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