segunda-feira, 2 de março de 2015

EDUARDO CUNHA: O Pagador de Promessas

Fonte: NoMinuto/Lígia Limeira
O presidente da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha, do PMDB/RJ, vem se revelando um grande cumpridor de promessas de campanha, figura quase em extinção nos quatro cantos do país chamado Brasil. Poderia ser motivo de exaltação, se os compromissos não tivessem sido assumidos junto aos pares de um colegiado ávido por dinheiro e poder, visando à ocupação do cargo máximo da instituição.
É isso que está por trás da liberação de recursos públicos para custear o transporte aéreo de cônjuges dos membros daquela Casa Legislativa entre Brasília e suas cidades de origem, bem assim da concessão de reajustes que incidem sobre praticamente todos os benefícios dos parlamentares, inclusive verbas de gabinete, elevando para R$ 2 milhões o gasto anual com cada um dos 513 deputados federais, que, por sinal, tiveram os salários majorados em 26% no final do ano passado.
As medidas são absurdamente dissonantes do que prega a economia brasileira: tempo de contenções, arrochos e aumentos de impostos, combustíveis e tarifa de energia, além de alterações em benefícios sociais que se diziam sagrados e incólumes, como seguro-desemprego, auxílio-doença, abono salarial e pensão por morte.
São nessas horas que enxergamos com nitidez o porquê de tantos desvarios e acirramentos por ocasião da disputa eleitoral. Afinal, é muito bom ser político: pouco trabalho, muitas regalias, quase nenhum compromisso, pouquíssima cobrança e um invejável corporativismo.
Na contramão dessa acintosa realidade, excetuada a eterna cômoda posição da elite brasileira, há todo o resto, que jamais foge à luta e que desde sempre segura as pontas e as contas do Erário. E haja ‘sofrência’!
O pior disso tudo é a insipiência, que alcança até os mais letrados. É cediço que muitos não sabem que, após as manifestações que pipocaram por todo o país em junho do ano pretérito, que, dentre outras medidas, ocasionou o fim dos 14º e 15º salários dos congressistas, o Parlamento instituiu uma ajuda de custo equivalente a um mês de salário, para o primeiro e o último mês de mandato. Ou seja, trocou-se seis por meia dúzia.
Também merece registro o nosso velho comodismo. Incompreensivelmente, há muita vontade e disposição para temas rasos e estéreis e quase nenhuma para discutir assuntos relacionados à cidadania e, por via reflexa, para lutar pelo futuro e pela consolidação da democracia. Assim, um debate em torno das cores de um vestido, febre recente nas redes sociais, acaba ganhando mais destaque e importância do que uma discussão em torno de matérias que nos libertariam dos grilhões da ignorância e da subserviência.
Por outro lado, há que se ressaltar, em se falando da rede mundial de computadores, alguns movimentos perpetrados por parcelas da sociedade, que reagiram de imediato ao desmando dos parlamentares, pelo menos no que tange à chamada farra das passagens aéreas, a exemplo do abaixo-assinado lançado pela ONG Avaaz, cujo maior objetivo é conclamar pessoas de todo o mundo a lutar por direitos e garantias sociais a partir de mobilizaçõesonline, e cujos signatários, que já somam mais de 250 mil, pleiteiam a sustação da benesse.
Em resposta à pressão popular, cinco agremiações partidárias já se comprometeram a não utilizar a rubrica de passagens aéreas para bancar os deslocamentos dos seus cônjuges: PSOL, PCdoB, PPS, PSDB e PSB. E - pasmem - o próprio Eduardo Cunha. Ou seja, promessa cumprida, aqui e alhures. A nossa sorte é que Renan Calheiros, num ato corajoso e bravio, já garantiu que no Senado não terá disso não. Segundo o senador, o órgão prosseguirá no rumo de ‘cortar desperdícios, eliminar privilégios e abolir redundâncias’. Seremos salvos pelo gongo?

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